O prefeito Márcio Lacerda, desconsiderando os clamores dos moradores do Bairro Cruzeiro e muito menos sem qualquer participação popular, pretende construir um Shopping Center, dois hotéis e 2.000 vagas de estacionamento no terreno público do Mercado Distrital do Cruzeiro. Este projeto, se realizado, irá trazer imensos impactos ao bairro, a começar pelo agravamento dos já constantes congestionamentos nas ruas que compõem a sua rede de microacessibilidade.
O projeto pode ainda acarretar o fim e a falência de vários pequenos comerciantes que já fazem parte da nossa história, tanto pelo transtorno e duração da imensa obra, quanto, em futuro próximo, pela impossibilidade de concorrer com as mega lojas que serão instaladas no local.
A qualidade de vida, hoje debatida e defendida no mundo todo, em nossa comunidade sofrerá um imenso retrocesso. O empreendimento encherá de concreto o espaço a céu aberto do Cruzeiro, impedindo a ventilação e aumentando o calor, afora outras inegáveis impactos, sem falar da descaracterização do mercado.
O Cruzeiro não suporta construções desse porte. A rede de esgoto será sobrecarregada e certamente haverão piores inundações na época das chuvas.
Nós, moradores do bairro, e os cidadãos desta cidade - já tão desfigurada pela implacável especulação imobiliária - estamos sendo violentados por esse projeto que sequer foi fruto de discussão com a comunidade e que demonstra um desrespeito à vontade popular.
O Mercado do Cruzeiro representa a sobrevivência de muitos. Sua importância econômica não pode ser banalizada como tem sido pela Gestão Administrativa Municipal. Mesmo que economicamente o Mercado fosse julgado desimportante em termos de abastecimento a Administração Pública jamais poderia negar sua importância social. O Mercado já faz parte da memória desta cidade agregando em si todas as referências possíveis que um bem público precisa ter para ser preservado. Além de ser um legado de uma arquitetura humanista e ecológica o Mercado é inegável atração turística, referência afetiva e geográfica e ponto de lazer para os moradores bairro e para quem o visita.
Queremos que o Mercado do Cruzeiro, juntamente com o Parque da Caixa d’água, seja preservado para as futuras gerações e que não venha a ser conhecido apenas por algumas fotografias no acervo de um museu. Por isso defendemos que seja revitalizado e não destruído em favor de um projeto faraônico que não nos atende.
Como cidadãos conscientes de seus direitos exigimos que se dêem vistas ao projeto de autoria da arquiteta Jô Vasconcelos que se encontra engavetado na SUDECAP, pois o julgamos ideal especialmente por que confirma nossa consciência crítica, ao demonstrar respeito e carinho pela história da cidade. Além de nos atender, o referido projeto - que contempla um andar superior de praça de alimentação, estacionamento subterrâneo, uma praça onde hoje é o estacionamento, elevador panorâmico de ligação com o parque da caixa d’água - não descaracterizaria o mercado. Ao contrário, tendo como ponto principal a sua valorização como ponto turístico, preserva suas características e sua história sem agredir e trazer quaisquer transtornos à nossa comunidade, o que não pode ser afirmado quanto às verticalizações propostas pelo projeto da Santec que o Executivo pretende nos impor.
Finalizamos afirmando que espaços públicos devem ter função social e não ser utilizados e beneficiados para construtoras e mercado imobiliários em detrimento dos anseios coletivos comunitários. Neste sentido, Fazemos um chamado a todos moradores do Cruzeiro e cidadãos de Belo Horizonte no sentido de unir nossos esforços contra a aberração do poderio econômico em detrimento da vontade da Sociedade Civil.
Não podemos aceitar que a cidade importe, através de seu executivo, uma mentalidade retrógada, que gosta de admirar as cidades bem preservadas da Europa, enquanto destrói, incessantemente, as características genuínas das nossas.
Podemos, finalmente, evocar a inspiração de grandes brasileiros, como Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Rodrigo Melo Franco de Andrade, Mário de Andrade, Gilberto Freyre, e tantos outros que defenderam como nós, pelo humanismo, pela qualidade de vida e pela poesia, por uma cidade embalada pela sonoridade do bem-estar comum, por uma cidade que nos aconchega pelo prazer de sermos parte dela e não seus enfeites.